Oceano Austral está a perder capacidade de absorção de CO2


Depósitos oceânicos de gases de efeito de estufa absorvem menos do que se pensava, anunciam cientistas na revista Science. Uma tendência que a manter-se vai dificultar os esforços de diminuição de CO2 da atmosfera.

As alterações climáticas estão a ter um forte impacto na forma como os gases de efeito de estufa são naturalmente absorvidos pelos oceanos. Cientistas do Max Plank Institute, na Alemanha, apresentam um estudo, na edição de 18 de Maio da revista cientifica Science, que indica que oceanos não estão a absorver o dióxido de carbono ao ritmo expectável.

Devido ao aquecimento global, os cientistas indicam que o Oceano Austral está a perder a capacidade de absorção dos gases de efeito de estufa, enquanto os níveis de emissões continuam a aumentar.

«Pensávamos que só seríamos capazes de detectar isto apenas na segunda metade deste século, em 2050 ou por ai», afirma Corinne Le Quéré, autora principal do estudo, citada pela agência noticiosa Reuters.

Isto porque, até agora pensava-se que o Oceano Austral absorvia 15% dos gases de efeito de estufa produzidos pelo Homem e se agora está a perder a capacidade de absorção e as emissões não reduzirem rapidamente, os efeitos negativos destes gases para o aquecimento global são ainda mais perigosos.

No estudo, publicado na Science, os cientistas indicam que obtiveram dados a partir de 11 estações de monitorização costeira no Oceano Austral, para perceberem a quantidade de dióxido de carbono que estava a ser absorvido.

Os dados do estudo revelam que, por cada 10 anos a capacidade de absorção do Oceano Austral reduz em 0,08 giga toneladas, em comparação com aquilo que os cientistas esperavam. Uma quantidade diminuta quando comparada com os níveis emitidos pelo Homem anualmente, cerca de 8 giga toneladas.

Os cientistas indicam que a redução da capacidade de absorção do oceano deve-se ao aumento dos ventos nos últimos 50 anos. De acordo com a Reuters, os cientistas referem que «estes ventos misturam o CO2 ao longo do Oceano Austral, misturando o carbono que ocorre naturalmente e que normalmente fica depositado no fundo do mar juntamente com o carbono produzido pelos humanos».

Porque os ventos fortes trazem o carbono natural à superfície da água, os especialistas explicam que é difícil para o oceano absorver mais carbono. Mas na origem deste fenómeno está também ‘a mão humana’, já que o aumento dos ventos é provocado pela destruição da camada do ozono e as altas temperaturas que as alterações climáticas provocaram a Norte do planeta comparativamente com as verificadas no Sul.

«Desde o início da revolução industrial que os oceanos do mundo absorveram cerca de um quarto das 500 giga toneladas de carbono emitido para a atmosfera pelos humanos», afirma Chris Rapley, do British Antarctic Survey, citado pela Reuters.

O especialista adianta que, «a possibilidade de num mundo mais quente o Oceano Austral – o depósito oceânico mais forte – enfraquecer, é uma causa para preocupação».

Texto adaptado do que foi publicado na TV Ciência pela jornalista Lúcia Vinheiras Alves a 18-05-2007.
(A Mónada)

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